13 de agosto de 2017

A Vista e o Coração

           (english version below)


O que aconteceu antes
A Ana Madureira tem um trabalho de qualidade invulgar em todas as áreas a que se dedica - teatro, música e desenho. Apesar disso é pouco conhecida talvez porque promover a carreira não é uma prioridade na sua vida. Esta falta de estratégia (digamos) comercial, é uma das coisas que admiro e que, de algum modo, me parece acrescentar leveza e espessura ao que faz.
Eu gosto muito dos desenhos dela e há muito que a desafio para fazer uma exposição aqui, na Casa das Virtudes, onde viveu entre 2010 e 2014 e onde deixou ficar alguns deles.
No ano passado comecei por lhe encomendar um desenho para a entrada do prédio sobre uma história de amor, que eu imaginava a espalhar-se pelas paredes acima, como uma praga. Mas afinal concordámos não ser aquele o espaço adequado e optámos pela organização de uma exposição no 1º andar que, entretanto, seria reabilitado. Eu queria ter tudo preparado um mês antes para fazer uma divulgação exaustiva da exposição. Tencionava esmerar-me e fazer a melhor produção de todas as que realizei na minha longa e peculiar carreira de produtora/programadora. Mas os tempos da Ana Madureira não eram os meus, estávamos desfasadas, e as minhas fantasias e entusiasmo foram- se esboroando. No fim de Fevereiro acertámos que não haveria desenhos novos mas antes uma selecção do que já tinha sido feito. Fiquei contente com este acerto de desejos. Mas o tempo foi passando, deixei de ter notícias novamente e senti-me desconfortável a lembrar prazos. Acabei por esquecer-me da exposição e marquei , com o arquitecto Luís Peixoto, a data para inaugurar as obras de reabilitação. E foi nesse mesmo dia que a Ana Madureira reapareceu e o que resultou deste encontro está, agora, à vista de todos.
Há muitos anos que acompanho processos de criação artística e nada que me dá mais prazer do que esta cumplicidade. A arte expande a realidade, cria mundo e , sobretudo, alimenta-nos a alma. Aí está porque apoiar artistas nunca é uma acção completamente desinteressada - há uma troca em que todos ficam a ganhar. E é isso que (apenas e) verdadeiramente (me) interessa.
Segundo Maria Filomena Molder quando diante de uma obra, “as associações que fazemos são também de natureza expressiva e indicam qualquer coisa da experiência humana em nós. Há um acesso inesperado, por interposta pessoa, à nossa vida” (1). Esta parece-me uma resposta certeira ao porquê do meu fascínio pelo trabalho desta artista – os seus desenhos abrem um acesso inesperado à minha própria vida.

Sobre os desenhos

Não sei porquê mas tenho a impressão que os desenhos lhe surgem espontaneamente, um pouco como as plantas silvestres irrompem pelos passeios da cidade. E imagino a Ana Madureira a dar-lhes as boas vindas com o mesmo sorriso simples, generoso e atento com que recolhe e transfigura os objectos abandonados, que vai encontrando pelas ruas e acaba por acolher debaixo do seu tecto.
No seu universo artístico tudo está ligado. Não há barreiras entre o mundo animal e o dos homens - há pessoas com cara de lobo e bodes com corpo humano. Também não há separação entre os aspectos nobres e comezinhos da vida – “uma mulher traz na mala vontade de amor e os legumes da sua avó”- escreve ela algures. Essa fluidez, proporcionada pela desconsideração de muros, é transmitida de forma silenciosa e eficaz. Há uma intensidade dramática, presente em tudo, que parece surgir da tensão entre a crueza (e o que há de sombrio) e a sensibilidade, o possível e o impossível, a fantasia e o sofrimento. E o movimento está sempre lá, mesmo na imobilidade das figuras.
Tenho a impressão, porventura errada, que nos seus desenhos, predominam as mulheres e os animais. Muitas das figuras têm uma aparência áspera, rude, em que o sexo pode surgir escancarado. Têm um ar desconfiado misturado com qualquer coisa que a miséria vai incrustando, em tudo o que toca. Tudo isto me parece resultar de um contacto íntimo com os aspectos mais violentos da vida, que estes personagem aparentam conhecer bem. Geralmente têm os olhos muito abertos, como as crianças que observam tudo, muito atentas, mas silenciosas e indefesas. Sinto estas figuras bem enraizadas, são fortes e intensamente verticais. Muitas têm uma atitude de desafio, fazendo frente à vida. Talvez o que me fascina seja esse poder de enfrentamento, sem hesitações. Mas ao mesmo tempo estão carregadas de ironia, um humor corrosivo, por vezes negro, que impregna tudo. Desconcertantes, partem para a luta mas vão armadas com uma gargalhada muda, que se apodera da nossa alma. Mas há desenhos intensamente poéticos, que nos tocam da mesma forma que os gemidos de uma guitarra portuguesa. Por vezes há personagens que se desdobram, a metade esquerda separa-se, total ou parcialmente, da metade direita, como alguém que fala de si para si.
Também há uns mini-livros que a Ana Madureira costura, na sua máquina eléctrica, para ligar as poucas folhas. Mas cada desenho é uma história concisa e intensa que fala sobre a vida no que tem de desconcertante e de violento mas também das linhas de fuga – o humor, a fantasia e a poesia - que a iluminam.
A utilização da cor corrobora tudo isto. O preto é, por vezes, acompanhado por cores sempre em tons suaves, sobretudo o vermelho, a cor que o sangue tem. Talvez a escuridão só seja suportável se puder ser interrompida (?).

                                                                                                 Graça Passos | São Brás de Alportel, 17 de Abril,2017

(1)“O que é que a Louise Bourgeois sabe que eu não sei”, em “Rebuçado Venezianos”, 2016, Relógio D’Água, Lisboa.




Biografias

Ana Madureira
Nasceu em 1980. Depois de terminar a licenciatura em Direito, mergulhou definitivamente na formação em teatro, dança e clown. Primeiro no CITAC, em Coimbra, depois na companhia Circolando. A música, a ilustração e a escrita foram desenvolvidas em contextos de experimentação autodidacta, a solo ou em interacção com outros artistas. Na Holanda integrou o colectivo musical Gudubik. Em residências artísticas no Instituto Grotowski, alargou a sua ideia e experiência de canto, voz e presença teatral. Durante dois anos esteve no c.e.m- Centro em Movimento, em Lisboa, onde trabalhou com Sofia Neuparth e Ana Rita Teodoro. Depois disso, começou a criar com a comunidade:  Noveloteca, convite de Madalena Victorino; Guia-me, convite da Casa das Brincadeiras; teus imaginarius meus, convite do Imaginarius 2012; Pé no mar, cabeça na terra, convite do Festival Rádio Faneca 2014, Ílhavo- são projectos que reúnem em livros de autor, instalações, visitas guiadas e ateliers de formação, o seu olhar de ilustradora e actriz sobre as histórias das pessoas. Das suas criações de teatro, destaca os solos CabraCega (2012) e Dama Pé de Mim (2016). Com Vahan Kerovpyan, músico, actor, ilustrador parisiense, criou Lav Lur, um dueto musical-teatral. 
É membro do Clown Laboratori Porto, plataforma de formação e experimentação na arte do palhaço. Na sua prática artística e pedagógica procura trabalhar o corpo aberto, capaz de escutar e agir a partir do instinto e do momento presente.

Graça Passos

(Faro,1958) . Bióloga, professora, produtora cultural/programadora e cidadã activa. Interessa-se por arte contemporânea e agricultura biológica. Dirigiu o CENTA entre 1989/2009. Fundou e integrou várias OSC culturais e ambientais, actualmente pertence à PTF-Plataforma Transgénicos Fora e ao Tavira em Transição.



evento:  https://www.facebook.com/events/641624989381747/



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(eng)




The View and The Heart






Ana Madureira has an unusual quality to every area she works in - theatre, music and drawing. Despite this she is little known, maybe because promoting her career os not one of her life priorities. This lack of "commercial strategy" is one of the things I admire,and one which, somehow, seems to add lightness and density to what she does.
I like her drawings very much and it has been for a while now that I have been challenging her to make an exhibition here in Casa das Virtudes, where she lived between 2010 and 2014 and where she left some of her works.
It started with me ordering her a drawing for the building entrance - a drawing about a love story, which I imagined spreading high up the walls like a plague. Finally, we agreed that entrance hall wasn't a suitable space and decided upon an exhibition that would take up the first floor - which, meanwhile, would be rehabilitated. I wanted to have everything prepared a month in advance, so that I could advertise the event exhaustively. I intended to dedicate myself to pulling the best production yet in my long and peculiar producer/programmer career. But my time and Ana’s time didn't match, we were desynchronized, and so my fantasies and enthusiasm were crumbling. In the end of February we decided on a selection from the work that has been done up to that point instead of new drawings. I felt happy about this settlement of desires. But the time went on and I stopped having any news from Ana again and felt uncomfortable while remembering deadlines. Eventually I forgot about the exhibition and settled an inauguration date for the rehabilitation works. On the same day, Ana Madureira reappeared and what has happened due to this encounter now stands before everybody’s eyes.
I have been following artistic creation processes for many years now and there is nothing that pleases me as much as this complicity. Art expands reality, creates a world and, above all, it nourishes one’s soul.
Here's the reason why supporting artists is never a totally selfless act - there is an exchange, in which everybody wins. And that is the (only) thing that has the true meaning (to me).
According to Maria Filomena Molder, when facing a work of art , “the associations we make are also of expressive nature and indicate something of our human experience. There is an unexpected access, through the intermediate person, to our own life”. This seems to be an accurate answer when questioning my own fascination with this artists' work - her drawings open up an unexpected access to my own life.




About the drawings

I don't know why, but I have an impression that the drawings appear to her spontaneously, slightly similar to the wild flowers that break out through city sidewalks. And I can imagine Ana Madureira welcoming them with the same simple, generous and attentive smile that she has while gathering and transfiguring the abandoned objects which she keeps finding and sheltering under her roof.

In her artistic universe everything is connected. There are no barriers between the animal and the human worlds - there are people with wolf faces and goats with human bodies. There is also no separation between the noble and light aspects of living - "a woman brings will to love and vegetables from her grandmother in her purse", she writes someplace. This fluidity, provided by disregard for punches, is transmitted silently and effectively. There is a dramatic intensity, present in everything, which seems to emerge from the tension between the rawness (and what darkness there is) and the sensibility, the possible and the impossible, the fantasy and the suffering. And the movement is always there, even in the immobility of the figures.
I have an impression, perhaps a wrong one, that in her drawings women and animals are predominant. Many of the figures have a harsh, rough appearance - where the sex can appear wide open. They have a suspicious look mixed with something that misery keeps embedding in everything it touches. All of this seems to result from an intimate contact with the more violent aspects of life, which these characters appear to know well. Generally they have wide open eyes, like children who are observing everything, very attentive, but silent and defenseless. I feel these figures well rooted, they're strong and intensely vertical. Lots of them have a challenging attitude, face-to-face with life. Perhaps what fascinates me is this power to cope, with no hesitations. At the same time they're filled with irony - corrosive, sometimes dark humor, which impregnates everything. Disconcerting, they go to the fight but they're armed with a mute guffaw that catches hold of ones' soul. There are also intensely poetic drawings, that touch us in the same way the moans of a Portuguese guitar do. At times there are characters that unfold - the left half separates itself, either totally or partially, from the right side, like one talking to oneself.
There are also the mini-books that Ana Madureira sews on her electric sewing machine in order to connect the scarce sheets. But every drawing is a concise and intense story that talks about life, about the disconcert and the violence, but also about the vanishing points - the humor, the fantasy and the poetry - which light her up.
The use of colors corroborate all of these. Black is sometimes accompanied by colors always in smooth tones, especially by red - blood color. Perhaps darkness is only bearable if it can be interrupted(?).

Graça Passos | São Brás de Alportel, 17 de Abril,2017






Biographies

Ana Madureira

Ana was born in 1980. After finishing her bachelor studies in Law, she definitively dived into theatre, dance and clown studies. First in CITAC in Coimbra and after in the Circolando company. Music, illustration and writing were developed in experimental, self-taught contexts, in solos or while interacting with other artists. She integrated a musical collective called Gudubik in Holland. As a resident artist in the Gotowski Institute she widened her ideas of and experience in singing, voice and theatrical presence. She spent two years at c.e.m.- Centro em Movimento in Lisbon, where she worked with Sofia Neuparth and Ana Rita Teodoro. After this she started to create with the community: Noveloteca, with invitation from Madalena Victorino; Guia-me, invitation from Casa das Brincadeiras; teus imaginarius meus, invitation from Imaginarius 2012; Pé no mar, cabeça na terra (foot in the sea, head on the earth), invitation from Rádio Faneca Festival 2014, Ílhavo - these are projects that reunite her illustator and actress views on peoples' stories in artist books, installations, guided tours and educational workshops. From her theatre creations she highlights solos CabraCega (2012) and Dama Pé de Mim (2016). Alongside Vahan Keropyan - parisian musician, actor and illustrator - Lav Lur was created, a musical and theatrical duet.
She is a member of Clown Laboratori Porto, an educational and experimental platform on clown art. In her pedagogical and artistical practices she seeks for an open body work, body that is capable of listening and acting from the instinct and from the present moment.

Graça Passos

(born in Faro,1958)

Biologist, professor, cultural producer/programmer and an active citizen. She is interested in contemporary arts and organic agriculture. She directed CENTA (Center for Studies on New Artistic Tendencies) between 1989 and 2009. She has funded and integrated several environmental and cultural NGO's, she is currently a part of PTF - Platform Transgenic Out and Tavira in Trasitioning.


event: https://www.facebook.com/events/641624989381747/





10 de março de 2014

LAV LUR em Paris!




















Dois enviados especiais recuperam as notícias esquecidas e devolvem-lhes a voz, o corpo e o sentido perdidos. Com acordeão, contrabacia, cavaquinho, uma concha e duas colheres de pau, cantam notícias de vários mundos, inventando descomplicada e surpreendentemente, letras, tradições e formas inomináveis, mas familiares.

Um concerto para qualquer canto, uma esquina de rua, um palco, uma mercearia, um sótão, um barco.
































fotografias de Graça Passos


Para mais informações:
http://penicheanako.org/agenda/2014-03-20-lav-lur


8 de fevereiro de 2014


Temos boas notícias para dar! 

Abrimos a porta da Casa das Virtudes para um acontecimento que se repete nos dias 22 e 23 de Fevereiro, às 17h (com duração aproximada de 2 horas).

 

No nr.17 da rua Dr. Barbosa de Castro

 

 

Lotação muito limitada!

Aconselhamos reserva: casadasvirtudes@gmail.com ou 91 9192525 

Contribuição: 4 euros

O que vai acontecer:

  

Conversa à volta do corpo e da arte   

guiada por Graça Passos e Sofia Neuparth

A partir de uma selecção de citações de autores como Jacques Rancière propõe-se uma reflexão conjunta.


Trabalho de investigação artística no âmbito do festival Pedras d'água 13 | cem- centro em movimento http://pedras14.wordpress.com/

A questão política é antes de mais a capacidade de quaisquer corpos tomarem em mãos o seu destino. (Jacques Rancière, O espectador emancipado)

  

 

Orifice Paradis (dança)






















''Quando morremos não vamos para o paraíso, morrer é o paraíso''  
ClariceLispector

Escolhi a boca como ponto de partida. Sinto o espaço vazio no interior da boca.
A língua está um pouco elevada, ela toca ligeiramente o palato mole e recusa-se a pousar-se no chão da boca. O ar frio penetra na boca quente.
Quando mordemos, fechamos os olhos?
Fazer o paraíso presente e não algo a devir. Multi-bocas, um corpo que fala por todos os lados, um corpo que come por todos os lados. Homenagem à boca, paraíso que vem a galope.

Interpretação e Coreografia    Ana Rita Teodoro
Produção    Centre NationalDanseContemporaine de Angers ( Master ESSAIS)




Lav Lur (música)














 






Lav Lur, agência de viagens
Dois enviados especiais recuperam as notícias esquecidas, trazem-nas para a sua agência e devolvem-lhes a voz, o corpo e o sentido perdidos.

Ana Madureira e Vahan Kerovpyan




Exposição colectiva de desenhos























André Ferreira













João Sá e Susana Correia




















Maral Kerovpyan

















Ana Madureira



Vahan Kerovpyan


Mestre de cerimónias:  Sara Araújo


 

Sobre os artistas:


Ana Madureira
Actriz e ilustradora. Na sua prática artística procura alargar as possibilidades de vida em cena, convocando o teatro, a música, o clown e a dança. Na folha em branco, desenha inquietações mais e menos conscientes, sem medo do minimalismo.
Tem criado objectos artísticos inspirados no trabalho com diferentes comunidades, em projectos que propõem às pessoas valorizar as suas próprias histórias e desafiar o olhar sobre si e o mundo.
O seu blog: http://www.alminhaldeia.blogspot.pt
 
Ana Rita Teodoro
É coreógrafa e bailarina. Acaba de concluir o mestrado do CNDC de Angers e da Universidade Paris8, onde desenvolveu como pesquisa a criação de uma “Anatomia Delirante”. O Butoh tem sido uma das suas áreas de interesse artístico. Associada ao c.e.m. com a Sofia Neuparth, estudou o corpo através das disciplinas de anatomia, paleontologia e filosofia. Desenvolveu trabalho com diferentes comunidades e de interacção com o espaço público. Criou as peças MelTe (2009), Curva(2010), OrificeParadis (2012), Reved’Intestin (2013) e Assombro(2013).

André Ferreira
Com o pseudónimo “Goran Titol” começou a dar a conhecer as suas composições musicais que, desde 2007, passaram a constituir parte do seu universo interior. Mais descobertas, mais experiências. Animou-se. Conjugou sons e imagens, electronica e passionalmente. Hoje escava com o olhar e com as mãos as histórias de outrora e compõe, com os mesmos utensílios, as estórias que vão brotando do chão quente e seco da paisagem alentejana. É este encanto que serve de cenário inspirador à sua arte literária, pictórica e musical. De pés fincados entre o sonho e o real, está consciente de que essa aparente antítese se desfaz quando o produto final é algo concreto, algures entre o que tem realizado e o que tem pensado.

Graça Passos
Licenciei-me em Biologia, ramo educacional na F.C.L. e aí iniciei o meu trabalho de produção cultural no “Teatro Emarginato”. Em 1988 fui convidada a trabalhar com o grupo de artistas plásticos da galeria Monumental o que me levou à criação da galeria Monumental/Bertrand e, posteriormente, à fundação do C.E.N.T.A., em Vila Velha de Ródão, encerrado em 2009 e que dirigi durante 20 anos. No início dos anos 80 acompanhei a implantação da agricultura biológica no país e, dez anos mais tarde, colaborei na introdução deste modo de produção em Ródão, na herdade da Tapada da Tojeira onde resido. Em Junho de 2011 envolvi-me na acampada Rossio e, a partir daí, dediquei-me a aprofundar questões que relacionam as minhas áreas de interesse- ensino, agricultura, ciência e arte contemporânea. O contacto estreito com o c.e.m ( estrutura de investigação artística), tem-me permitido acompanhar a reflexão actual das questões relacionadas com o corpo.

João Sá
Sempre me interessou a fronteira entre as artes – o espaço despenteado entre elas.
Tenho vivido a agarrar tudo o que é curso e workshop: de escultura a manipulação de objetos; teatro, marionetas, clown, danças...
Para fazer! Fazer sempre muito! Mas sempre ao lado... sempre fora desta ou daquela gaveta.
Ao nivel da expressão plástica, cedo me apaixonei pela pasta de papel: material com cheiro a brinquedo, teatro, circo e feira popular.
Com objectos criados por mim, percorri as principais mostras de artesanato do país.
Com escultura policromática, em pasta de papel, fiz algumas exposições.
(Salpoente, Aveiro, 1995; Espaço LabMed, Porto, 2000; "Beijos e Gaiolas", Galeria Artésis, Vila Nova de Gaia, 2002; Convento Corpus Christi, Vila Nova de Gaia, 2011.)
Fascina-me, também, a ruptura da fronteira entre artista e público.
Tenho criado uma série de exposições, performances e oficinas em que o público mergulha no jogo criativo
(Exposições: "É proibido NÃO mexer nos objectos expostos", Cooperativa Árvore, Porto; “Máquinas Pictorioactivas” e “Padrões Caóticos”, Fundação Serralves. Performances vivenciais: “Mandalas Comestíveis", Rio Ganges (Recife) e Quintal Bioshop; "Eco Arte", Miguel Bombarda 566 e E.S.M.A.E.; "TerrABRAÇO", Teatro Latino e LaMarmita; Jantar Cego, LaMarmita e Casa Betâmia).

Sara Araújo
Recentemente licenciada em Animação e Produção Cultural na Escola Superior Artística do Porto. Estagiou como assistente de produção na 36º edição do FITEI - Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica. Faz parte do grupo Clown Laboratori Porto, que é uma plataforma de formação/exploração da arte do Palhaço. Possui sete anos de experiência como animadora, participando em variadíssimos eventos por todo o país.

Sofia Neuparth
Nasci em Lisboa, em 1962. Sempre amei o movimento! As minhas primeiras tentativas em dança foram com Teresa Rego Chaves e Anna Mascolo, depois de ter sido corrida de uma classe de ginástica rítmica para a qual … obviamente… não tinha nascido.
Fiz a minha formação em dança clássica com o mestre Tony Hulbert, embora não possa esquecer a importância que tiveram Madame Violette Quenolle, Anatoli Gregoriev, Jorge Garcia ou Michel Renaud.
Aos 18 anos comecei a ensinar dança e a estudar filosofia, anatomia e fisiologia Terminei o curso de tradutora intérprete do ISLA e completei a Alliance Française e quando concorri para cargos onde poderia aplicar directamente essas ferramentas percebi que a minha vida seria criar espaços onde pudesse dedicar-me ao estudo do corpo e da relação.
Durante 6 anos fiz estágios em Londres, no “The Place”, e noutras escolas de dança contemporânea, onde tive a oportunidade de desenvolver trabalho com artistas como Robert North, Kazuku Hirabayashi, Lloyd Newton ou Karen Burgin.
Trabalhei voz com Mário Marques e Lúcia Lemos e cantei em bares com a Banda de Zé Carvalho.
Considero muito importante para o meu percurso na arte o encontro no final de 80 com a European Dance Development Center, em Arnhem, na Holanda onde fui para um estágio de meses e acabei dando as aulas da Mary Fulkerson(Mary O’Donnel), então co-directora da escola. 
Além da experiência como professora de grupos de alunos vindos de toda a parte do mundo, tive ainda oportunidade de estudar com Eva Karckzag, Simone Forti, Martha Moore, Peter Hulton, Jim Fulkerson, Sally Silvers, Mary O’Donnel, Bonnie B. Cohen, Aat Hougeé e Lisa Krauss.
Ainda no início de 90 trabalhei como intérprete nas criações de Mary Fulkerson, Amélia Bentes, Peter Michael Dietz, José Laginha e Miguel Abreu e comecei a compor as minhas “situações performativas”. 
Também no início desta década comecei a agregar criadores e teóricos de várias áreas para reflectir sobre a urgência da criação de um espaço elástico para formação, criação e investigação artística. Foram anos de dedicação à construção de novas vias de trabalho de Corpo para começar a construir plataformas que deram origem à criação do que é hoje o c.e.m – centro em movimento uma estrutura conectora que se dedica à formação e investigação artística, à criação e experimentação ao trabalho com as pessoas e lugares partindo do estudo do Corpo em relação.
A necessidade de me manter constantemente activa enquanto cidadã expressa-se nos debates e conferências em que participo defendendo um lugar para o desenvolvimento da Arte enquanto forma essencial de Conhecimento. Co-fundei e fiz parte da direcção da  REDE - Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea, uma supra-estrutura que reúne estruturas profissionais portuguesas.  
Penso que, de uma maneira global, o foco essencial do meu trabalho tem sido a relação. Sempre que utilizo a palavra CORPO refiro-me, de facto, a essa complexa entidade não só biológica, atravessada de sonhos, movimentos, invenções, pensamentos ou relações.
Movimento-me frequentemente naquilo que desconheço. No meu percurso enquanto investigadora é frequente sentir que o chão só se cria à medida que o meu pé caminha. Desde os 19 anos tenho desenvolvido trabalho com indivíduos com casos pessoais especiais (doenças terminais, deficiências mentais profundas, deficiências físicas, grupos estigmatizados..) Reconheço-lhes sempre o eco em mim. 
Oriento e acompanho a formação pessoal e artística de pessoas vindas das mais diversas culturas e estratos sociais… pessoas com graus de desenvolvimento e formas de estar consigo e com o mundo completamente diferentes. Não posso deixar de pensar que essa pluralidade que tem constituído a minha experiência pessoal e profissional.
Escutar, criar e comunicar são e serão a minha vida.
 
Susana Correia 
Nasce num dos últimos dias dos anos 60.
Ao longo dos anos 70, vai perscrutando o que é isso da vida – apresentam-lhe a dança e descobre-a como a forma mais pura de se conectar com ela!
Pelos anos 80, canaliza os seus estudos para a área das artes plásticas, ingressando, nos seus finais, no curso de arquitectura. Mantém-se ligada à dança ao que se junta algum estudo na área da música e um pouco de teatro.
Os anos 90, revelam-se de grandes mudanças: abandona as áreas artísticas focalizando a sua atenção – estudos e profissão – na educação e sua vertente pedagógica. Olhando hoje para trás percebe que a sua necessidade de expressão artística passou a expressar-se através do outro – a criança.
O início deste novo século, uma reviravolta em sua vida se manifesta na busca de um sentido mais amplo para a existência. Procura, hoje, reintegrar o seu percurso artístico e profissional. Ainda timidamente no artesanato tem dado expressão a esta nova fase.
 
Maral Kerovpyan
Nascida em Paris, ilustradora e realizadora de filmes de animação, guia  também ateliers para crianças e adultos. Entre os temas recorrentes do seu trabalho, estão a descoberta do ‘outro’ e a capacidade dos humanos de construir e destruir os muros, visíveis e invisíveis, que os separam. A sua inspiração vem das suas acções pedagógicas, sociais e políticas.
 
Vahan Kerovpyan 
Percussionista, pianista, cantor e recém acordeonista, explora os territórios que ligam música, teatro e movimento. Membro de vários grupos musicais, colabora regularmente com companhias de dança e teatro, em Portugal, França e Polónia.
No seu trabalho, confronta as moralidades e contradições de si mesmo, jogando com as  preocupações, fantasias e curiosidades que o movem.


EXTRA: No sábado dia 22 fev, as Boas Notícias continuam à noite no Gato Vadio: